Nuno Cobra Jr http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br Aqui, Nuno Cobra Jr. propõe uma pequena revolução: pensar o corpo e o treinamento físico através de um prisma filosófico, integral e multidisciplinar. Thu, 28 May 2020 21:14:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Revolução no treinamento físico http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/05/27/revolucao-no-treinamento-fisico/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/05/27/revolucao-no-treinamento-fisico/#respond Wed, 27 May 2020 07:00:46 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=81

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Imagine uma forma de atividade física que faça você despertar motivado e excitado, mesmo às 6h da manhã. O seu coração palpitante anseia, incontrolavelmente, por reviver esta experiência tão gratificante e estimulante.

Na realidade, você está totalmente viciado nesta atividade, devido ao fato de ela ser intensamente divertida. A dose de adrenalina produzida por tal experiência causa uma dependência física intensa e incontrolável.

Quem já foi surfista se identifica com o relato acima. Eu mesmo já acordei às 6hs da manhã e fui surfar em dias extremamente frios no sul do país, em que o mar estava absolutamente congelante. A partir desta experiência, faço a seguinte pergunta: acordar para praticar essa atividade requer esforço ou força de vontade? Nem um, nem outro. Na realidade, mal podemos nos conter em relação à expectativa de repetir essa experiência prazerosa.

Então, como a ciência explica a dificuldade de aderirmos à atividade física? Ela defende que os homens, assim como os animais, têm três estímulos básicos que o fazem se movimentar: a comida, o sexo e a fuga de predadores.

O nosso corpo busca economizar energia. Sendo assim, uma atividade física que não inclua os três estímulos citados anteriormente não seria algo natural ou instintivo aos seres humanos. Isso explicaria por que fugimos dos exercícios. Porém, refletindo com mais cuidado, onde a teoria falha?

Esqueceram-se de incluir o “brincar”. Mesmo os animais adultos, como os felinos, primatas, golfinhos e elefantes, gastam horas diárias em brincadeiras diversas e, nesta hora, a sua última preocupação é economizar energia.

Os adultos também são carentes de atividades lúdicas e prazerosas. Para boa parte das pessoas, a única atividade divertida e relaxante disponível está ligada ao consumo de bebidas alcoólicas e a vida noturna. Brincar é essencial ao ser humano, afinal, brincar é celebrar a vida, é estar vivo da forma mais intensa e natural possível. É estar em “flow”, o que permite voltar a se reconectar consigo mesmo e com o todo.

Além disso, o brincar, a descoberta do prazer em explorar o corpo e suas possibilidades, traz um imenso ganho cognitivo. O que se traduz em mais concentração, inteligência, foco, controle emocional, jogo de cintura e assertividade, entre outros. O exercício, dessa forma, irá estimular o conhecimento de si, uma exploração das habilidades cognitivas e motoras, como também um desenvolvimento da criatividade.

O exercício passa a não ser mais um recurso ligado a um prêmio futuro, ao emagrecimento ou ficar “sarado”. O brincar já é o objetivo e o prêmio em si. A minha experiência reafirma esse fato: caso uma atividade não seja estimulante e faça sentido, por si mesma, independentemente dos resultados prometidos, o aluno terá mais dificuldade em aderir ao treinamento.

É assim que treinar pode vir a ser o momento mais divertido do seu dia, colaborando decisivamente em sua regularidade, consciência e comprometimento. Desenvolver formas de atividade física equilibradas, lúdicas e prazerosas representará uma grande revolução no mercado de treinamento, nas próximas décadas.

O estilo de vida moderno nos leva ao adoecimento

Nos dias atuais, crianças e adolescentes passam em média de oito a 12 horas por dia em atividades estáticas, sentados em salas de aula ou na frente de telas como televisão, celular ou computador. Se não criarmos um tipo de atividade corporal intensamente divertida, equilibrada e interessante, que rivalize com o vício dos eletrônicos, o futuro da humanidade está em risco. O nosso futuro será feito de pessoas cada vez mais obesas e doentes.

Desenvolver alternativas de treinamento que sejam divertidas e estimulantes pode ser uma grande saída para este cenário alarmante, tanto para as crianças como para o adulto. Sempre que vivemos uma experiência agradável e prazerosa, queremos repeti-la. No entanto, sempre que vivenciamos algo desagradável e doloroso, tendemos a fugir desta experiência, mesmo que de forma inconsciente.

Colocar o corpo em movimento por meio de uma atividade prazerosa deixa de ser uma obrigação e passa a ser um momento de relaxamento e diversão. Assim como uma criança, que se entrega a uma brincadeira sem ter hora para acabar.

A Carol, minha esposa, viveu uma experiência interessante e reveladora neste sentido. Estávamos em um parque infantil com a nossa filha de 4 anos, e elas subiram em um daqueles brinquedos clássicos, o trepa-trepa.

Um menino que subiu logo em seguida perguntou surpreso:

-Porque você subiu aqui?
-Para brincar, ela disse
-Você brinca? Disse espantado o menino
-Claro que eu brinco, não é legal brincar?
– Eu adoro, responde o menino, ainda perplexo.

Logo depois, o menino gritou bem alto para a sua irmã de sete anos que estava ao lado:

– Olha Isabel! Um adulto que brinca!, Isso não é incrível!

O meu sonho é que em um futuro, não muito distante, o seu treinador, em vez de lhe dizer “Vamos treinar?”, que é entendido como “Vamos sofrer?”, possa, sedutoramente, lhe propor: “Vamos brincar?”

“O mundo é um playground, nós sabemos disso quando somos crianças, mas nos esquecemos disso quando nos tornamos adultos”

Zooey Deschanel

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Como nos ensinaram a gostar de sofrer? http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/como-nos-ensinaram-a-gostar-de-sofrer/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/como-nos-ensinaram-a-gostar-de-sofrer/#respond Wed, 13 May 2020 07:00:30 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=70

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Certa vez, no parque Ibirapuera, pude ouvir uma mulher comentar com sua amiga:

“O meu personal é ótimo! Ele é super-rigoroso, fica gritando o tempo inteiro, parece um sargento (risos). Ele nunca me dá moleza, eu saio da aula quase morta. Menina! Eu fico praticamente destruída depois da aula. No dia seguinte, parece que levei uma surra! Parece que fui atropelada por um caminhão, eu mal consigo sair da cama!” (risos)

E ela continuava, empolgada:

“Eu demoro de dois a três dias para me recuperar. Mas está valendo a pena o sacrifício. Eu vou te indicar o meu personal, ele é maaaaravilhoso!”

Pois é, essa visão do treinamento associada a dor e ao sofrimento, infelizmente, é compartilhada pela maioria da população. De certa forma, por meio de depoimentos como esse, constatamos que ainda vivemos na Idade Média do treinamento corporal. Precisamos, urgentemente, trazer um pouco de luz ao conhecimento do corpo. Que venha logo o Iluminismo!

Na Europa, depois da peste negra, o conhecimento humano deu um salto exponencial, todo o obscurantismo e as ideias retrógradas ficaram para trás, surgindo assim, uma nova era, priorizando os valores humanos, as artes e a expansão da consciência. Agora, no treinamento, está ocorrendo esse mesmo processo, após 40 anos de hegemonia, o modelo do fitness já caducou, tudo o que você conhece como treinamento físico irá mudar radicalmente nas próximas décadas. A indústria do fitness provavelmente vai se reinventar e sobreviver, mas o futuro do treinamento pertence ao wellness, ou seja, a formas de treinamento ligadas à saúde a ao bem-estar.

No entanto, o legado do fitness deixou um rastro devastador na maneira como a maior parte da população entende o treinamento e se relaciona com o próprio corpo. Ao propagar fórmulas milagrosas e radicais de dieta e treinamento, a “indústria do corpo perfeito” causou um efeito colateral de proporções incomensuráveis na saúde pública. Sem que as pessoas saibam disso, vivemos a era mais obscura da história do treinamento físico.

Para dar apenas um exemplo, só no EUA, mais de três milhões de pessoas consomem anabolizantes com finalidades estéticas, caso se multiplique o número de usuários pelos vinte países mais desenvolvidos, chegaremos a números assustadores, e isso representa apenas uma pequena parte desse impacto negativo, que se estende à explosão dos transtornos alimentares, da anorexia e da depressão, entre diversos outros desequilíbrios. Todos esses distúrbios são alavancados pela insatisfação de não conseguir se adequar a um modelo cada vez mais insano e rigoroso de beleza corporal.

Já está cientificamente comprovado (Macpherson – Sánchez, 2005), estimular a busca do “corpo perfeito” fomenta o mercado bilionário das dietas radicais, um dos principais fatores do aumento da obesidade no mundo. Da mesma forma, o mercado bilionário dos treinamentos da moda estimula modelos de treinamento radicais, colaborando no aumento do sedentarismo, por mais paradoxal que isso possa parecer, dificultando, imensamente, a adesão do aluno ao treinamento e aumentando absurdamente lesões ligadas à sobrecarga e aos excessos.

Pois é, a nobre arte da educação física tem funcionado como uma espécie de “deseducação física”, lhe ensinando a maltratar e torturar o seu próprio corpo, até que a dor e a exaustão sejam insuportáveis. Infelizmente, ainda vamos carregar essa herança por um longo período.

O culto ao fortalecimento muscular

Hoje vemos nas academias, rotineiramente, milhões de jovens entre 14 e 35 anos levantando cargas pesadas, seguindo fórmulas radicais de treinamento, tomando anabolizantes e destruindo de forma precoce a própria coluna e articulações. Tudo isso para estar em conformidade com esse padrão de beleza vendido pela indústria do fitness.

De certa forma, ainda estamos nos primórdios do treinamento físico, a popularização desse processo se iniciou na década de 1980 e, pelo visto, começamos com o “pé esquerdo”. Em vez de seguirmos os grandes mestres da consciência corporal e do equilíbrio, seguimos o modelo de treinamento recomendado pelo Arnold Schwarzenegger e pelo Sylvester Stallone, grandes astros de Hollywood, que colaboraram, decisivamente, com a fixação desse modelo no imaginário coletivo, na década de 1990.

Devido ao fenômeno das academias, grande parte do treinamento físico feito no mundo é o que podemos chamar de um treinamento estético, ou “treinamento cosmético”. Quanto mais pressa na busca do corpo perfeito, mais rápido você consome suas articulações e cartilagens. Saúde e performance são os dois extremos do treinamento físico. Na realidade, quanto mais nos aproximamos do espectro da performance, menos saudável é o treinamento. Conheço atletas que aos 30 anos de idade já passaram por uma dezena de cirurgias ortopédicas.

Quase tudo o que o grande público conhece como treinamento físico é uma forma muito específica de se conceber a saúde corporal. Essa visão é contaminada pela herança militar do treinamento e pelo lobby do bodybuilding (o culto ao fortalecimento muscular). Os conceitos criados pelos bodybuilders ou “marombeiros”, como são popularmente conhecidos, dominam o ambiente de treinamento. Eles já estavam lá quando a indústria do fitness começou a florescer na década de 1980, dessa maneira, foi quase inevitável esse domínio.

Para os marombeiros, faz sentido sofrer e sentir dor no treinamento se isso se traduz em mais músculos no menor tempo possível. Aqui, se iniciou toda essa confusão e essa enorme distorção, uma vez que esse modelo passou a ser indicado para o restante da população.

A polarização do treinamento

Em meu livro: “O músculo da alma, a chave para a sabedoria corporal”, fruto de uma pesquisa que durou 12 anos, analiso detalhadamente a indústria do treinamento físico, explicando como as modas do treinamento distorcem os princípios fundamentais da saúde corporal.

O primeiro registro histórico do treinamento remonta a 3.000 a.C., quando o imperador e general chinês Hong Ti percebeu que treinar fisicamente seu exército seria uma vantagem estratégica. O treinamento físico nasceu como uma prática militar e esses conceitos fundaram a própria escola da educação física no mundo. Agora você entendeu por que muitos professores agem como um sargento? A cultura do treinamento é profundamente influenciada pela cultura militar.

Na Grécia antiga se iniciou a polarização atual, gerando duas linhas opostas de abordagem e visão. Essa dicotomia nasce do embate entre as duas principais vertentes do treinamento: o modelo de corpo filosófico e criativo, ligado à cidade de Atenas, e o modelo de corpo rígido e militar ligado à cidade de Esparta. Transpondo essa polarização para os tempos atuais, vemos, basicamente, dois tipos de profissionais do treinamento: aqueles que seguem as modas do treinamento, fórmulas mais comerciais e apelativas de desenvolvimento corporal e, do outro lado, os treinadores que trabalham com atletas, defendendo a moderação e o equilíbrio corporal como princípios fundamentais.

A questão primordial enfrentada pelos treinadores esportivos é como atingir o máximo da performance física de um atleta sem correr o risco de lesões. Pois bem, essa formula só de fecha por meio de modelos de treinamento ligados à moderação. Para aqueles que estão doutrinados no modelo do fitness, sugiro pesquisar o significado da palavra moderação no dicionário, lá vai estar escrito: moderação = na medida exata, sem exagero. Curiosamente, os treinadores de alta performance não se utilizam de métodos ou estratégias ligadas ao bodybuilding e a modas do treinamento.

Olha só como a nossa visão de mundo pode ser condicionada e direcionada pelo mercado de consumo: a indústria do treinamento é o único lugar, no universo conhecido, a negar a lei da moderação e do equilíbrio, lhe ensinando que a medida exata não funciona e que sem sofrimento você não atingirá bons resultados, quando, na realidade, o que ocorre é exatamente o contrário. Obviamente, caso a sua meta seja ficar extremamente musculoso, rígido ou “bombado” o mais rapidamente possível, sugiro continuar seguindo o modelo do bodybuilding. Porém, sugiro também perguntar a um ortopedista ou ao fisioterapeuta quais as consequências desse modelo no médio e longo prazo. De qualquer forma, devemos respeitar as escolhas de cada um, afinal, existe gosto para tudo.

O que não vale é querer impor a sua verdade a todos e defender o absolutismo corporal, simplesmente porque ele é uma grande mentira. Na realidade, existem diversas maneiras de se chegar a um mesmo resultado. A realidade é complexa e multidimensional, ela sempre desmente aqueles que tentam reduzi-la, estreitá-la, e se autoproclamam como os donos da verdade. No fundo, é tudo apenas uma questão de marketing, ou seja, como as principais marcas esportivas do planeta dominam e controlam as principais modas ligadas ao treinamento, obviamente, defendem e sustentam, apoiadas em algumas pesquisas, que as opções escolhidas por elas são as melhores escolhas disponíveis, afinal, esse “monopólio da verdade” lhes garante a maior fatia desse mercado.

“É uma filosofia que causa lesões e que enchem os consultórios de fisioterapia hoje em dia. A consequência mais comum ao adotar esta estratégia do “sem dor, sem ganho” é uma lesão ou a desistência da atividade física” — Dr. Diego Leite de Barros, profissional de educação física e fisiologista do Hospital do Coração

Como o cérebro aprende a gostar de sofrer

O modelo de pensamento estimulado pela nossa sociedade, o racionalismo utilitário, nos ensina, desde pequeno, que a vida é um eterno sacrifício em busca de recompensas. Dessa forma, quando um aluno chega na academia, ele já está comprado pela ideia de que a única forma de obter resultados seria seguir o modelo hegemônico, aprendendo a suportar a dor e o sofrimento.

Caso ele consiga ultrapassar a barreira “intransponível” dos três meses iniciais, o que a imensa maioria das pessoas não irá conseguir, as chances de aderir a esse modelo aumentam consideravelmente.

Um processo chamado “retroalimentação mental” irá colaborar nesse aprendizado. Como funciona isso? Após três meses de dor e sacrifício, começam a se reforçar em seu cérebro os benefícios e as recompensas dessa atividade. Caso o aluno consiga resistir a esse modelo mais seis meses, redobrando essa aposta, o seu cérebro irá aprender a associar a dor a algo benéfico e positivo. No fundo, é apenas uma questão de tempo e repetição incessante, até que o cérebro se condicione a um novo aprendizado, como qualquer coisa em nossa vida.

Com o tempo, essa associação pode se transformar, a retroalimentação mental do “dói, mas é positivo” pode evoluir para o “dói, mas, ao mesmo tempo, me dá prazer”, após infinitas repetições dessa experiência. Pois é, quem não chora, não gama! Parodiando uma frase bíblica, é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um aluno do fitness conseguir alcançar o sonho de um “corpo perfeito”. Mesmo aqueles que conseguem se aproximar desse ideal, nunca estão satisfeitos, afinal, sempre dá para “melhorar” mais um pouquinho.

Por incrível que pareça, o mercado tornou-se um grande inimigo da adesão ao treinamento físico. As academias querem que o aluno volte no dia seguinte, mas o fazem passar por um sofrimento indescritível e cruel, vai entender!

O ser humano, como todos os animais, foge da dor e do sofrimento, dessa forma, quando vivemos uma experiência agradável e prazerosa, queremos repeti-la, porém, quando vivemos uma experiência desagradável e dolorosa, fazemos de tudo, mesmo que de forma inconsciente para evitar essa experiência

A mentalidade fitness transformou a atividade física em uma pílula ruim que somos obrigados a tomar para ganhar músculos e emagrecer e, como bem sabemos, toda obrigação torna-se um sinônimo de chatice, algo que buscamos evitar a todo custo.

O mercado não aprendeu nada com o sucesso do Pilates, um modelo de treinamento extremamente popular e favorável à adesão, simplesmente, devido ao fato de ser acessível e adotar a medida exata como um princípio fundamental.

Devido ao meu livro, atualmente, sou reconhecido como uma das principais vozes da renovação do treinamento físico. Essa é a minha colaboração na reeducação física da nossa sociedade, espero que, no futuro, nenhuma forma de treinamento seja legalizada caso não atenda os critérios de recomendação de, pelo menos, mais três áreas complementares do conhecimento corporal: a ortopedia, a fisioterapia e a cardiologia. Não podemos indicar um método de treinamento sem saber as consequências desse modelo no médio e longo prazo.

Detalhe: segundo meus estudos, as modas atuais são veementemente criticadas e vetadas por essas três áreas complementares, como também por alguns dos maiores estudiosos do treinamento físico, como, por exemplo, o Dr. Turíbio Leite de Barros e o Dr. Paulo Zogaib. Na cardiologia ligada ao esporte, podemos citar o Dr. Nabil Ghorayeb e, na ortopedia, o Dr. Moisés Cohen, ambos, grandes autoridades em suas respectivas áreas de atuação. Praticamente, a maioria dos profissionais, principalmente aqueles que são mais experientes e conscientes, condenam os modelos radicais de treinamento. Afinal, que ética é essa que nos proíbe de analisar a realidade dos fatos? Devemos manter a ética profissional e favorecer os grandes lobbies ou devemos, acima de tudo, favorecer a população? Eis o dilema!

O melhor exercício não é aquele que queima mais calorias, mas aquele que você gosta de fazer. Esse, sim, vai dar resultado. O salto mais essencial é desenvolver uma relação de prazer com a atividade corporal. Para ser efetiva a atividade física deve ser incorporada a uma rotina, esse é o grande segredo. Caso essa atividade seja prazerosa, lúdica e equilibrada, o desafio será muito mais acessível e convidativo para uma grande parcela da população.

O mercado acabou complicando algo que é muito simples, Na realidade, só existe um exercício que funciona: aquele que você consegue manter com regularidade. Ache uma atividade que lhe sirva, sob medida para o seu perfil, algo que você goste de fazer, e você terá resolvido a questão mais crucial do treinamento físico.

“O principal conceito da “nova ginástica” é torná-la acessível a todos aqueles que necessitam praticar atividade física, incluindo homens, mulheres, crianças, gordos, magros, fortes, fracos, enfim, qualquer pessoa. A atividade corporal deve desenvolver flexibilidade, graça, agilidade e, principalmente, melhorar a saúde” — Diocletian Lewis, fisiologista, 1862

Obs: Essa frase foi dita por um fisiologista norte-americano que revolucionou o treinamento físico. Ele lutou a vida inteira contra os modelos hegemônicos de treinamento ligados a cultura militar que, na sua opinião, levavam à rigidez corporal e ao excesso de músculos. É incrível como a história sempre se repete.

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O novo conceito de vencedor e perdedor http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/04/29/o-novo-conceito-de-vencedor-ou-perdedor/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/04/29/o-novo-conceito-de-vencedor-ou-perdedor/#respond Wed, 29 Apr 2020 07:00:17 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=63

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Aqui, nesse artigo, você terá uma surpresa, irá descobrir que o conceito de “loser”, isto é, perdedor, e consequentemente, o conceito de vencedor, estavam incompletos. Na verdade, o conceito antigo seria só a primeira parte, ele dá conta apenas do primeiro desafio em nossa sobrevivência: fazer parte do mercado de consumo e garantir os recursos essenciais para a manutenção da vida. Ou seja, a partir do momento em que você venceu na vida e conquistou os recursos básicos à sua sobrevivência, surge o segundo desafio: não ser consumido pelo mercado de consumo.

Nos últimos 18 anos, os estudos sobre a felicidade se tornaram uma febre entre os pesquisadores e, finalmente, a ciência descobriu uma verdade incômoda: você está sendo manipulado pelo marketing do consumo. Resumindo uma longa história, os níveis de felicidade não se alteram a partir do ponto em que você conquista aquilo que é extremamente básico à sua sobrevivência. Traduzindo em números, a partir de, aproximadamente, oito salários mínimos, tudo aquilo que você conquistar, não fará diferença em sua felicidade intrínseca, de fato.

O fator principal que explica o porquê da riqueza não se traduzir em satisfação permanente chama-se “adaptação hedonista”. O ser humano tem uma tendência a se adaptar rapidamente a qualquer situação, seja para o bem, seja para o mal. Já percebeu isso?

Por exemplo, se você trabalhar de forma insana e acumular muito dinheiro, você poderá, finalmente, comprar a mansão dos seus sonhos e, realmente, essa sensação pode lhe trazer satisfação por certo período. Porém, rapidamente, você vai se acostumar com essa nova condição e o seu nível de satisfação volta ao patamar anterior. Ou seja, em pouco tempo, parecerá aos seus olhos que você teve uma mansão a vida inteira. Essa é a sensação.

Assim como uma criança que ganha um presente novo, com todos os bens supérfluos que você adquirir, ocorrerá esse mesmo processo: prazer momentâneo e insatisfação permanente. Dessa forma, criar e estimular a insatisfação passa a ser a principal estratégia do mercado de consumo.

Então, voltamos ao segundo desafio da sobrevivência: não ser consumido pelo mercado de consumo e, nesse ponto, gostaria de convidá-lo a ampliar o conceito de perdedor e enxergá-lo sob outro ponto de vista. Nesta versão complementar, ser um “loser” é ser capturado e tapeado pelo marketing do consumo e ter os seus valores, foco e energia vital aprisionados aos bens materiais, como forma de status e sentido de vida. Ser um “loser” é ser escravo de um sistema de trabalho vazio e massacrante, que só visa o lucro e o acúmulo de riqueza. Ser um “loser” é perseguir uma ilusão de felicidade que nunca se realiza, por meio da fama, do dinheiro e do sucesso.

Como você pode perceber, na segunda versão, os valores de ser um vencedor se invertem e, caso você continue seguindo as indicações do primeiro princípio, na realidade, pode se tornar um perdedor. Como isso acontece? Ao abdicar da sua saúde, da sua vida afetiva, dos momentos de lazer e de todo o resto que dá sentido à nossa existência e colocar toda a sua energia em prol do trabalho e dos valores do mercado, você troca uma vida plena e com sentido, ou seja, uma felicidade genuína, por uma felicidade ilusória e fugaz.

Beco sem saída

Por que o mercado de consumo, de forma enganosa, o convence de que você será mais feliz na medida em que consumir mais? Simplesmente, porque, sem esse argumento, dificilmente você iria consumir a enorme quantidade de bens supérfluos e descartáveis que são produzidos atualmente.

Historicamente, essa estratégia se estabeleceu no início do século passado, com o avanço da industrialização. Até então, tudo o que produzíamos era fruto de um modo artesanal de produção e o foco era produzir coisas extremamente úteis e essenciais. Com a explosão do mercado de consumo, na década de 1950, tudo isso muda e, além dos bens de utilidade, o marketing do consumo se desenvolve, o convencendo de que a sua felicidade está associada à compra de bens supérfluos e desnecessários. Essa foi a maneira que o mercado encontrou para crescer e acomodar a sua enorme capacidade de produção, fabricando uma enorme quantidade de coisas desnecessárias.

Agora que chegamos em 2020, podemos perceber onde nos trouxe o desvio de rota que assumimos lá atrás, com a explosão do mercado de consumo e dos bens supérfluos. Todo o nosso ecossistema está entrando em colapso, os mares, as florestas, inclusive o nosso próprio corpo. Todas as doenças avançam em ritmo alucinante, como a obesidade, a depressão, a ansiedade crônica, as doenças cardíacas, o diabetes e tantas outras.

E, aqui, surge uma questão mais grave, aquilo que deveria colaborar em sua saúde, também se transforma em mercados bilionários, sendo submetidos a essas mesmas regras, ou seja, vender métodos descartáveis e supérfluos. Por exemplo, as principais modas de dieta e treinamento são, essencialmente, fórmulas instantâneas e milagrosas, baseadas no curto prazo.

Sendo assim, obviamente, isso as tornam fórmulas mais sedutores e comerciais. Resumindo: atendendo ao pedido do consumidor, que se mostra com pressa, uma enorme parte do mercado de consumo lhe vende coisas que não são eficientes e saudáveis, no médio e longo prazo. Como a ciência já provou, no caso das dietas da moda, na verdade, elas colaboram decisivamente no aumento da obesidade, sendo um dos principais fatores a alimentar esse processo.

Da mesma forma, modelos de treinamento baseados na dor e no sofrimento dificultam a adesão do aluno, defendendo fórmulas instantâneas, superficiais, expulsivas e radicais de treinamento. O foco é ganhar músculos e perder peso, no menor tempo possível, mesmo que à custa de uma destruição metódica do corpo. Ou seja, quanto mais pressa na busca do “corpo perfeito”, mais rápido você consome suas articulações e cartilagens.

Dessa forma, o “treinamento cosmético” distorce os princípios fundamentais da saúde corporal, e, principalmente, não estimula que o aluno desenvolva uma relação positiva com a atividade corporal, associada a uma forma de obrigação ou um enorme desconforto físico.

Veja bem, a responsabilidade não é só do mercado, ele apenas está lhe oferecendo aquilo que você lhe pede. Afinal, a pergunta “Como perder peso rápido?” é uma das mais feitas Google, atualmente.

Para complicar ainda mais, inventamos, no início do século passado, o “mercado da remediação”. A indústria farmacêutica, um dos maiores nichos do mercado de consumo, o convence de que, em vez de atacar a verdadeira causa dos seus desequilíbrios corporais, você pode tomar um “remedinho” que irá controlar esse processo. Para quem está com pressa, isso é bem pertinente, afinal, em vez de combatar as verdadeiras causas do problema, em sua imensa maioria, associadas aos seus hábitos de vida, ao sono, à alimentação e à atividade física, você consome uma pílula e segue mantendo tudo aquilo que alimentará e continuará sustentando esses desequilíbrios orgânicos. Ou seja, dessa forma, você acaba de ser fidelizado por esse grande lobby do mercado de consumo. As doenças continuarão avançando, porém de uma forma mais lenta, quando perceber, você pode estar em um beco sem saída.

Vida com qualidade 

Finalmente, chegamos ao fim desse pequeno resumo da minha pesquisa de vida e profissional, que já dura 36 anos, e vem desaguar no conceito de vida com qualidade e treinamento integral. Esse conceito representa o futuro dos produtos ligados à nossa saúde e ao mercado do wellness, retornando ao ponto essencial dessa questão: os métodos de cuidado com a saúde devem estimular fórmulas profundas, efetivas e definitivas, priorizando mudanças de hábitos ligadas ao médio e longo prazo.

Esse retorno à simplicidade, àquilo que é, realmente, funcional, útil e essencial, irá encorajar a reavaliarmos a forma como estamos vivendo. Sendo assim, romper com essa ilusão criada pelo mercado do consumo descartável é o primeiro passo para resgatar a sua liberdade e integridade corporal.

Atualmente, diversos movimentos globais estimulam o minimalismo e a desaceleração desses mecanismos perversos gerados pelo consumo descartável, como, por exemplo, o “slow medicine”, levando os médicos a defenderem um atendimento mais profundo e humano, que prioriza as mudanças de hábito e não apenas a remediação. O movimento do “slow education”, defende que devemos preparar os nossos filhos para a vida, e não apenas para o mercado, e o “slow food”, o estimula a comer comida de verdade e reduzir o consumo de alimentos industrializados.

Em 2004, inicie uma pesquisa em busca de integrar o conhecimento corporal e trazer esse movimento minimalista para o treinamento, defendendo o “slow training”, uma forma, a princípio, anticomercial de treinamento, simplificando aquilo que parece complicado e defendendo fórmulas mais naturais e orgânicas de desenvolver e cuidar da saúde corporal. O nosso desafio é desfazer uma distorção que levou o mercado a priorizar o treinamento estético e as fórmulas de curto prazo, prejudicando a nossa saúde física e mental, no médio e longo prazo.

O consumo consciente e a desaceleração da vida são dois fatores primordiais nesse processo, sendo também decisivos para o futuro da nossa sobrevivência como espécie.

Desacelerar é preciso! Só a desaceleração dos modos de vida pode quebrar a “coluna vertebral” do aumento da insanidade física e mental no mundo atual.

PS: Esse artigo resume alguns trechos e questões mais profundas colocadas em meu livro: “O músculo da alma, a chave para a sabedoria corporal”, os desdobramentos do que apresento aqui são tão abrangentes que não cabem em poucas linhas.

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O que podemos aprender com os cavalos? http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/o-que-podemos-aprender-com-os-cavalos/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/o-que-podemos-aprender-com-os-cavalos/#respond Wed, 15 Apr 2020 07:00:57 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=53

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Aprendemos muito quando ensinamos, na verdade, acho que ensinar deveria ser mais uma tentativa de compartilhar experiências do que um processo vertical de ensinar conceitos pré-fabricados e pré-estabelecidos. Somos todos mestres e, ao mesmo tempo, aprendizes. Nos tornamos ignorantes quando adentramos no campo de outros saberes.

Outro dia, um dos meus alunos, o Fábio Bozelli, me contou uma história interessante. Ele pratica salto no hipismo, um esporte complexo e delicado, que exige uma percepção aguçada e uma sincronia fina com um animal sensível e extremamente empático. Quando sentamos em um cavalo, ele sincroniza os seus batimentos cardíacos aos nossos, em tempo real. Dessa forma, tudo aquilo que sentimos, por extensão, passa a ser sentido por ele.

O Fábio me disse que estava angustiado por sentir que a sua evolução no hipismo havia se estagnado. Sendo assim, ele resolveu compartilhar essa aflição com seu professor.

– Caramba, professor, há meses eu treino a mesma coisa e não consigo sair do lugar! O que está acontecendo?

– Ok, vamos tentar outra estratégia, disse o professor. Coloque o peso do corpo um pouco mais para trás, Isso! Agora, relaxe um pouco a tensão nos braços.

Depois de algumas dicas pontuais, o professor pediu para ele tentar novamente a manobra em que havia empacado. Para sua surpresa, ele conseguiu, finalmente, executá-la. As coordenadas passadas pelo professor já tinham sido passadas anteriormente, a diferença é que, dessa vez, ele parece ter conseguido relaxar e confiar na possibilidade de realizá-la.

Isso me remete a uma teoria interessante: sempre que tencionamos o processo de aprendizado, criamos uma dificuldade adicional e uma barreira à nossa própria evolução. Por enquanto, guarde essa teoria na memória, ela também serve para explicar a dificuldade das pessoas em conseguir emagrecer. Quanto mais conflito e mais tensão, mais criamos barreiras à concretização dos nossos objetivos. Ou seja, quanto mais tensa, preocupada e obsessiva for a sua relação com a comida e o emagrecimento, mais dificuldade você terá neste processo. Essa é a armadilha. Quando o assunto “não posso comer” se torna uma obsessão para você, mais o seu foco vai estar aprisionado a ele e mais refém da comida e dos seus medos você estará.

Terceirizando o problema

Por que ainda agimos como uma criança em relação ao que precisamos mudar? Por que nos tornamos tão dependentes de uma autoridade (o especialista, o professor), que irá nos pegar pela mão e nos conduzir em direção às nossas metas? Será que, na maioria das vezes, isso não depende mais de nós mesmos do que dos outros? O professor pode ajudar a mostrar o caminho, mas trilhá-lo cabe a você.

Após 36 anos de experiência, defendo uma linha comportamental de mudança de hábitos, tanto no corpo quanto na mente, de uma forma orgânica e gradativa, priorizando o médio e longo prazo, o que ajuda a prevenir a desistência. Porém, muitas vezes, fico tenso quando o aluno me traz a sua angústia de não estar evoluindo, nessa hora, tenho duas opções: ou fico aflito com a sua reclamação, ou reconheço que essa angústia não me pertence.

Ao ceder a essa demanda, posso começar a pensar em soluções radicais e instantâneas para estancar essa angústia. Bom, se faço isso, acabo de cair na “vala comum” das soluções milagrosas e compactuo com a ansiedade e a pressa do aluno. Ou seja, a partir daí, em vez de estar ajudando na solução, vou estar colaborando em manter e perpetuar esse problema.

Por que isso acontece? Porque a solução da questão está, exatamente, em aprender a sustentar essa angústia e, principalmente, na capacidade de olhá-la de frente, sem medo e sem possibilidade de fuga. Sempre que você fugir, você estará regredindo e voltando para trás, adiando a hora de encará-la e resolvê-la definitivamente.

Mas o que fazem aqueles que estão sempre fugindo de si mesmos? Eles estão sempre culpando e responsabilizando os outros pelo seu insucesso. Buscam sempre terceirizar a solução do seu problema. “Se esse professor não me fizer emagrecer, logo vou procurar um outro professor que o faça”, esse é o raciocínio mais comum. Dessa forma, o aluno se abstém da sua responsabilidade nesse processo.

É bom avisar que essa “peregrinação” corre o risco de não ter fim. Afinal, as soluções superficiais aumentam, enormemente, as chances de retornar ao ponto de partida, uma vez que não estamos atacando a verdadeira causa dessa questão.

Adianta fugir?

Acontece que a sociedade de consumo tem pressa, e isso nos leva a alimentar uma doce ilusão: fugir ao problema é melhor que enfrentá-lo. É o que chamo de insanidade corporal: querer chegar a resultados diferentes usando sempre a mesma estratégia. Sempre que você seguir uma receita generalista, esquemática e sedutora de busca da felicidade, controle mental, emagrecimento, controle das emoções, autoconhecimento, ou o que quer que seja, você estará se afastando da solução. Na vida, não existe atalho! Quem te vender um atalho estará, discretamente, te iludindo, pode ter certeza disso!

Para uma perda de peso definitiva, o mais importante não é reduzir o peso corporal (essa receita você consegue em qualquer banca de revista), o mais importante é desconstruir, um a um, os condicionamentos e a relação que o aluno tem com o seu corpo e com a alimentação. Ou seja, para mudar o corpo, primeiro você precisa mudar a mente.

Isso já é um consenso entre os maiores estudiosos da nutrição (entre eles  Mann 2007): 95% das pessoas que seguem dietas restritivas retornam ao peso anterior, ou ganham ainda mais peso, no prazo de um ano. Obviamente, o marketing dos métodos milagrosos e instantâneos irá te mostrar apenas aqueles 5% que conseguiram emagrecer, porém, não necessariamente foram capazes de manter essa perda de peso por um longo período. Manter uma alimentação restritiva não é viável no longo prazo, além de não proporcionar o mais importante: a reeducação dos hábitos. Pense bem, você adotaria uma estratégia sabendo que ela falha em 95% dos casos? Ou seja, quanto mais pressa você tem, mais demorado poderá ser esse processo.

Voltando ao assunto dos cavalos, o Fábio me contou duas histórias complementares, na segunda parte da história, ele disse que, certo dia, estava injuriado com o cavalo e reclamou para o professor que o cavalo não conseguia fazer o que ele lhe mandava. O professor, inteligentemente, pediu para montar o seu cavalo e executou tudo o que ele estava tentando fazer, com imensa facilidade. Nesse ponto, ele percebeu que o problema era com ele, e não com o cavalo. Imagine que a nutricionista ou o treinador fazem as vezes do cavalo nessa fábula moderna e você terá entendido essa questão.

É importante refletir: enquanto você não se responsabilizar pelos seus próprios problemas, você continuará culpando os outros e o mundo por algo que cabe a você mesmo procurar resolver. Mudar é possível, mas exige paciência e coragem. Mãos à obra! Encare de frente os seus medos e os seus fantasmas. Ao fazer isso, você irá vê-los em seu tamanho real, não tão implacáveis e assustadores como você imaginava.

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A cesta básica da saúde: arroz, feijão e caminhada http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/04/01/andar-e-tao-bom-que-deveria-ter-na-cesta-basica-arroz-feijao-e-caminhada/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/04/01/andar-e-tao-bom-que-deveria-ter-na-cesta-basica-arroz-feijao-e-caminhada/#respond Wed, 01 Apr 2020 07:00:15 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=48

Caminhar faz muito bem à saúde cardiovascular. Mesmo dentro de casa, não deixe de andar | Crédito: iStock

Há alguns dias, um corredor francês transformou a varanda de seu apartamento (com 7 metros de comprimento) no menor trajeto de uma maratona na história do esporte, completando os 42,195 km de “prova” em 6 horas e 45 minutos.

Tentando bater seu recorde, fui audacioso e, recentemente, fiz a maratona dentro do meu quarto, com apenas 2 metros de comprimento. Aproveitei e tentei bater o recorde da maratona mais lenta da história, porém, quando já estava correndo há 5 horas e percebi que ainda estava no quilômetro 12, desisti.

Na verdade, era tudo uma brincadeira, postei a hilária simulação dessa experiência em meu Instagram como forma de estimular as pessoas a fazerem atividades cardiovasculares em casa, durante a quarentena.

Falando sério, ano passado, fiz uma caminhada de 50 minutos dentro de um apartamento. Eu estava cuidando de uma pessoa que estava doente e, então, sem possibilidade de sair, enquanto ela dormia, eu abri a porta que dava para o corredor, para aumentar o percurso, e, a cada 15 minutos de caminhada, subia e descia 2 andares.

Essa pode ser uma ótima opção para se manter ativo, para quem mora em prédio. Não precisa caminhar rápido, uma caminhada leve, nesse caso, já faz a função de ativar o organismo e fortalecer o sistema imunológico. Te convido a replicar esse desafio e postar a sua maratona em casa. Vale maratonar no sofá assistindo à sua série favorita, na pia ou na faxina.

O desafio está lançado!

Arroz, feijão e caminhada

Recentemente, ao gravar um conteúdo para as redes sociais, sem querer, de improviso, acabei criando um mote bacana para uma campanha de saúde pública, segue o texto: “A caminhada é tão importante quanto respirar, aliás é ela que irá manter a saúde do seu sistema cardiorrespiratório. Caminhar deveria fazer parte da cesta básica: arroz, feijão e caminhada.”

Não entendo! Como alguém pode cuidar apenas dos músculos e não priorizar a sua saúde cardiovascular? A saúde orgânica não deveria vir antes? Se eu tivesse que escolher qual a atividade física mais essencial, mais saudável, perfeita, democrática e a mais eficiente que existe, com certeza, eu escolheria a caminhada.

O ser humano caminha sobre a terra há milhões de anos, há apenas 100 anos, a maioria de nós caminhava de 7 a 8 km por dia, uma vez que ainda não existiam veículos de transporte acessível à população. Não por acaso, o excesso de peso e as principais doenças modernas ainda não tinham aumentado de forma assustadora, como ocorreu nas décadas seguintes, na medida em que o nosso sedentarismo foi se acentuando.

A ciência do esporte ainda não revelou, de forma profunda, os benefícios dessa atividade e, na última década, a caminhada foi sucateada, descredenciada e relegada a algo irrelevante, um erro grosseiro que demonstra a falta de uma visão integrativa da saúde corporal.

Existe uma contradição, pois, de um lado, campanhas de saúde pública o estimulam a ficar mais ativo e caminhar; e do outro, a indústria do fitness busca promover seus produtos, dizendo que a caminhada não serve para nada. No entanto, essa atividade continua sendo o treinamento cardiovascular ideal para quem está acima do peso. Explico essa questão com mais detalhes, futuramente, aqui no meu blog.

Embora isso não seja divulgado, a caminhada é o mais potente ansiolítico existente no mercado, pesquisas comprovam que o seu efeito na ansiedade é mais eficiente que o mais moderno medicamento disponível atualmente. Além do mais, ela regula a nossa saúde física e mental de forma complexa, os seus efeitos em nosso organismo são indiretos e assustadoramente mais abrangentes, do que se imagina.
Por exemplo, a caminhada tem um efeito moderador sobre praticamente todas as nossas atividades orgânicas funcionais, além de moderar nosso apetite. Além do mais, ela tem um efeito modulador na qualidade do sono, o elemento que, de forma isolada, mais impacta a nossa saúde. Quando um elemento impacta o sono dessa forma, ele impõe respeito.
Não existe nenhuma atividade que tenha um custo benefício tão elevado quanto a caminhada, você pode praticá-la por toda a vida, sem prejudicar ou agredir o seu aparelho locomotor e, através dessa atividade, a sua saúde pode ser irretocavelmente perfeita, ou seja, como você pode perceber, fazer o mínimo já é muito!

Por que caminhar é essencial nesse momento?

É como eu digo: treine como se a sua vida dependesse disso, porque ela depende, e muito!
O momento em que vivemos vem salientar e revelar quais estratégias favorecem o nosso corpo ou não. Se é a favor da manutenção da vida e do sistema orgânico, é saudável, simples assim. O sistema imunológico serve como um precioso parâmetro para analisar essas estratégias. Ele é uma espécie de termômetro daquilo que agride o nosso organismo. Um treino muito exigente expõe e fragiliza esse sistema por até 24 horas, dependendo da sua intensidade.

O treinamento com moderação, somado a um sono de qualidade, são os dois elementos que mais fortalecem esse sistema, em seguida vem a alimentação. Comparados a esses pilares essenciais, qualquer outra coisa sintetizada ou inventada pelo homem é um mero coadjuvante. Coloque a exposição à luz do sol nessa receita, acrescente a diminuição do estresse físico e mental e pronto, a saúde do seu sistema imunológico foi lá para cima.

Nesse momento, a imunidade é muito mais relevante do que a idade, conheço senhores que dão “uma surra” na imunidade dos mais jovens, ou seja, em time que está ganhando não se mexe, mas em time que está perdendo, a substituição dos hábitos deve ser urgente.

Cuidado, não treine em excesso!

Se você ainda duvida que a moderação (que significa: na medida exata, sem exagero) é o princípio fundamental da saúde corporal, agora, diante de um vírus que pode ser letal, não restará mais dúvida. Nesse momento, o segredo é não fazer nenhum treinamento ou forma de alimentação as quais você não esteja bem adaptado, sob o risco de agredir seu sistema orgânico. Dieta ou restrição alimentar nem pensar!

Treinar com moderação e comer com moderação, essa é a receita. Na realidade, o ideal seria treinar um pouco abaixo do seu nível de adaptação para preservar o seu sistema imunológico. Por que isso? Ao fazer um treino que você já está acostumado, porém ter tido uma noite de sono ruim, esse estímulo vai cair muito mal à sua imunidade, despencando a sua resistência orgânica e escancarando a porta do seu sistema a qualquer vírus oportunista.

Por esse motivo, calcular mal a dosagem do treinamento e não ter o repouso necessário pode ser perigoso. Por exemplo, há dois anos, um amigo meu, um atleta de competição experiente, ficou à beira da morte devido a uma pneumonia oportunista. Qual foi seu erro? Fazer o que estava acostumado e dormir mal. Resumo: a sensatez e a moderação corporal nunca foram tão importantes!

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O vírus mais perigoso não vem da China http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/03/18/o-virus-mais-perigoso-nao-vem-da-china/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/03/18/o-virus-mais-perigoso-nao-vem-da-china/#respond Wed, 18 Mar 2020 07:00:21 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=41

Crédito: iStock

O cérebro humano é uma máquina perfeita de processamento e arquivamento de dados, as formas como o nosso cérebro pode ser condicionado e dirigido são amplamente estudadas pela psicologia e pela neurociência comportamental. Fazendo uma analogia, somos uma espécie de “robôs orgânicos”, seres programados e teleguiados por informações que nos sãos ensinadas e impostas pela cultura, pelo marketing e pelo meio em que vivemos.

A engrenagem social nos ensina a obedecer às regras e aos valores estabelecidos e, assim, passamos a fazer parte do sistema de produção e consumo. Esse sistema controla os seus desejos, a forma como você pensa, ou mesmo, a maneira como você enxerga o seu próprio corpo. Por exemplo, os modelos de beleza mudam acentuadamente a cada década, de acordo com lobbies e interesses específicos. Ao seguir as novas modas de consumo ligado ao corpo, você está obedecendo a comandos psicológicos subliminares.

Aprendendo a odiar

O vírus mais perigoso não vem da China. Como você irá perceber, existem outros tipos de vírus que habitam entre nós e já são velhos conhecidos do ser humano. Como nos acostumamos a eles, já não percebemos o seu poder de morte e destruição O primeiro é o vírus do ódio e da intolerância. Na Itália, a polarização política alimentou a viralização da desinformação e, consequentemente, essa divisão social terminou levando a saúde pública ao esgotamento. Ou seja, o vírus mais perigoso está dentro do seu próprio celular.

Como você viu na introdução, a nossa mente é controlada pelo “joystick” do marketing social. O mais incrível é que esse sistema nos ensina até aquilo que devemos odiar ou não, você duvida? Se fizermos uma pesquisa no Brasil, perguntando qual o ser humano mais vil e repugnante que habita nosso país, um grande número de pessoas irá responder que é o líder da esquerda e uma outra porcentagem, similar, dirá que é o líder da direita.

Os avanços da neurociência trouxeram um efeito colateral, agora os cientistas sabem exatamente como os sistemas de decisões operam em seu cérebro, podendo influir sobre os seus impulsos de consumo, ou quaisquer outras formas de escolha. As eleições são um bom exemplo disso.

O medo é uma das mais antigas estratégias de dominação e controle. Podemos afirmar, sem susto (risos), que vivemos em uma sociedade baseada no medo, ele está por trás das suas motivações mais básicas, sem que você possa perceber. Na política, isso torna-se ainda mais agudo.

Assisti, recentemente, a uma reportagem explicando como os marqueteiros, de ambos os lados, manipulam a comunicação para influenciar e definir o seu voto.
Eles conduzem entrevistas com grupos de interesse específicos e, a partir dessas descobertas, criam linhas de comunicação com esses grupos, visando atingir, diretamente, os seus medos mais profundos e viscerais. Ou seja, você acha que votou no melhor candidato, mas, na verdade, você votou contra aquele candidato que mais o assusta.

Tomar decisões baseadas no medo nunca é uma boa solução, mas, afinal, o que você queria? Em um sistema que já começa com o nome “Partido”, você esperava o quê? União em direção ao bem comum?

Não contentes em estimular o seu medo, eles criam estratégias de marketing para fomentar e cultivar o ódio, via redes sociais, aumentando, distorcendo e manipulando informações para demonizar o seu principal concorrente. O ser humano comum não está acostumado a pensar de forma complexa e filosófica. Ele não sabe que é muito fácil reforçar e defender, de forma convincente, qualquer ponto de vista que seja pertinente.

Na Grécia antiga, havia competições dessa nobre arte da oratória e do convencimento, provando que uma verdade mais profunda só pode ser atingida a partir de diversos pontos de vista complementares.

A verdade é uma senhora de respeito, mas sofre de múltiplas personalidades, às vezes ela se prostitui, servindo os interesses de algum lobby oportunista; outras vezes, ela surge travestida de falsos conceitos; por vezes, ainda, ela é amordaçada e maltratada por senhores autoritários, agressivos e controladores. Os donos da verdade, na realidade, só podem ser donos de uma pequena parte dela, uma vez que, para juntar todos os pedaços dessa senhora, teriam que estar abertos a ouvir e acolher os argumentos dos seus opositores, entre tantos outros.

O que acontece com um organismo que luta contra si mesmo? Alimentar o extremismo e a luta ideológica funciona como um elemento de separação, ódio e intolerância social, impedindo que possamos evoluir como nação e indivíduos. O coronavírus vem apenas realçar essa problemática, e, agora, ele nos convida a deixar a ideologia de lado.

A família foi expandida

O segundo vírus, igualmente letal, é o vírus da individualidade. Vivemos de forma coletiva, mas priorizamos os interesses individuais, esse é o principal conflito. O que impera é a lei do faroeste: cada um por si e seja o que Deus quiser. Quando um país entra em litígio com outro, como na guerra do petróleo atual, ele não se importa com o impacto que essa ação irá causar em milhões de vidas, ele apenas defende os seus interesses imediatos. Enquanto pessoas, grupos ou países agirem assim, seguimos no caminho da injustiça social, da intolerância e da guerra.

A pandemia vem nos mostrar que estamos todos no mesmo barco, forçando os líderes a abandonarem suas crenças ou ideologias e trabalharem juntos, porém a ficha ainda não caiu para muitas pessoas, uma grande parte delas está em pânico, correndo aos supermercados para garantir os seus interesses pessoais e, assim, acabam desabastecendo aqueles que irão logo em seguida.

Outra parte da população ignora esse chamado coletivo, negando-se a diminuir o convívio social. Influenciados pelo marketing digital político, eles ainda não entenderam que são potenciais transmissores de um vírus que se propaga em alta velocidade, atingindo grupos de risco específicos, ameaçando o sistema de saúde público e colaborando com o aumento do número de mortes.

A nossa miséria coletiva é fruto da nossa miséria individual. Qual o resultado de muitas misérias juntas? A ignorância corporal, somada à pobreza mental e à miséria espiritual, não podem dar um bom resultado.

Primeiro, precisamos mudar como indivíduos, e, só então, mudaremos como coletivo.

Hora de manter a calma e se retirar. Para quem tem crianças em casa, isso vai exigir muita criatividade e disposição. Recomendo o site “Território do brincar”, com dicas incríveis de brincadeiras para os pequenos. Aqui em casa, tivemos a ideia de nos juntarmos ao nosso vizinho nessa quarentena, assim os nossos filhos podem brincar juntos, o que ajuda muito nessa situação.

Hora de abandonar a negação e começar a agir pelo bem coletivo. Imagine como irá evoluir a covid-19 em São Paulo, uma cidade que nunca para, onde milhões de pessoas usam o transporte público diariamente? E no Rio de Janeiro, uma cidade que vive em grandes aglomerações à beira mar e nas favelas? Como a saúde pública, já convalescente, vai dar conta de uma explosão repentina e urgente?

A questão não é só como você é afetado, mas também como evitar ser um transmissor desse vírus. A nossa família ficou menor, e, ao mesmo tempo, foi expandida: a nossa família agora é toda a humanidade. Hora de pensar no coletivo e fazer a sua parte.

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O mito do treinamento com sofrimento http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/03/04/o-mito-do-treinamento-com-sofrimento/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/03/04/o-mito-do-treinamento-com-sofrimento/#respond Wed, 04 Mar 2020 07:00:58 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=35

Crédito: iStock

Hora de atualizar os slogans do treinamento físico. Para substituir o antigo, criei um slogan muito mais realista e inclusivo: o “No brain, no gain”, traduzindo: sem inteligência, sem ganho. Essa é a forma mais utilizada por alguns dos maiores treinadores de atletas no mundo, por meio da qual se busca tirar o máximo do aluno, sem expô-lo ao risco de lesões.

Essa equação só se fecha com estratégias bem pensadas, na medida exata, sem exagero. Um treinamento sob medida, bem planejado e inteligente seria também a fórmula mais adequada para mais de 90% da população, somando os sedentários, obesos, alunos com sobrepeso, idosos, alunos sem regularidade e alunos sem adaptação aos modelos radicais de treinamento.

Caso você seja um “crente do treinamento com sofrimento”, a culpa não é sua. Provavelmente, você é apenas uma vítima dos treinamentos da moda ou um convicto adepto do treinamento arcaico, ou treinamento militar, a forma mais popular e antiga de treinamento que se tem notícia. O primeiro registro histórico de um treinamento ocorre com um general chinês treinando seu exército. Pois é, era assim há mais de 5 mil anos e ainda é assim até hoje.

Veja bem, não estou dizendo que esse modelo não funciona, dependendo do seu objetivo –por exemplo, acelerar os resultados ou ganhar músculos no menor tempo possível, mesmo que à custa de uma “destruição” metódica do corpo, no médio e longo prazo. Porém, é bom avisar: a pressa é inimiga daquilo que é bem feito. Toda promessa de acelerar os resultados é também uma promessa de acelerar o desgaste corporal e pular etapas essenciais do treinamento.

Nenhum dos princípios fundamentais do treinamento físico sustentam que a dor e exagero sejam parâmetros válidos ou uma medida correta, para o aluno evoluir de forma segura e sustentável. A lei da supercompensação, um dos princípios mais fundamentais, defende que o aluno deve ser submetido a um leve desconforto, um esforço apenas um pouco acima do seu nível de adaptação, causando um estresse físico adequado, sem exagero, para que a compensação a esse esforço e a sua evolução no treinamento possa ser mais produtiva e bem planejada.

Após 40 anos, chegamos ao esgotamento de uma fórmula. Os ventos estão mudando, o modelo do fitness já caducou, tudo o que você conhece como treinamento irá mudar radicalmente na próxima década.

Treinamentos da moda podem distorcer os princípios fundamentais da saúde corporal

Aqui está a confusão: um treinamento de alta intensidade para um aluno que está sedentário há mais de 10 anos e está mais de 10 kg acima do peso seria algo como caminhar durante 30 minutos, com uma inclinação muito suave na esteira. Ou seja, recomendar uma corrida para esse caso específico seria uma insanidade corporal.

No entanto, devido ao lobby dos treinamentos da moda, atualmente, muitos defendem o exagero como uma medida ideal de treinamento. Na minha opinião, devido à moda do treinamento de alta intensidade, vivemos a era mais obscura da história do treinamento físico, na qual o exagero, a distorção e o desequilíbrio no treinamento assumem o disfarce de uma verdade absoluta e totalitária, resultando em fórmulas de treinamento cosméticas e superficiais.

Diversas pesquisas dão sustentação aos treinamentos da moda, uma vez que esse assunto se torna uma moda também entre os pesquisadores que, então, se debruçam tentando comprovar as vantagens desse modelo. Já vi esse filme antes, como no caso da ginastica aeróbica na década de 1980. Porém, quando essas modas caducam, a tendência se inverte e os pesquisadores começam as pesquisar os efeitos colaterais desses modelos. Junte a isso, o fato dos professores se verem obrigados a aderirem as novas tendências, e você terá um mapa completo desse desastre.

“Mais da metade dos atendimentos em consultório são lesões relacionadas a sobrecarga no treinamento”

Moises Cohen, ortopedista e Presidente da Sociedade Mundial de Trauma Desportivo

Se pudéssemos entender o treinamento de uma forma mais abrangente, adicionando a essa analise o olhar da fisioterapia e da cardiologia, por exemplo, as modas atuais não fariam mais sentido, uma vez que, quanto mais radical for um treinamento, mais radical são os seus efeitos colaterais sobre a saúde corporal.

Na realidade, quanto mais nos aproximamos do espectro da performance, menos saudável é o treinamento. Conheço atletas que aos 30 anos de idade já passaram por mais de uma dezena de cirurgias ortopédicas.  Quase tudo o que o grande público conhece como treinamento físico é uma forma muito específica de se conceber a saúde corporal. Essa visão é contaminada pela herança militar do treinamento e pelo lobby do bodybuilding (o culto ao fortalecimento muscular).

O mito do treinamento com sofrimento

Vamos lá, vou tentar esclarecer, de uma forma didática, o principal mito do treinamento físico. No momento, sou uma pessoa bem capacitada para tal façanha. Há 35 anos, treino alguns dos maiores atletas brasileiros, e, há 16 anos, estou fazendo uma pesquisa abrangente e profunda sobre o tema, o que rendeu o primeiro livro que desconstrói, de forma profunda, esse mito. Para completar, sou herdeiro direto de um grande mestre do treinamento que pesquisa sobre isso, há 65 anos. Nada mal para um país que costuma importar os conceitos sobre treinamento físico, o método Cobra inaugura a filosofia integral do treinamento físico: uma forma mais profunda, integrativa e transdisciplinar de abordar a preparação física.

O desafio aqui, nesse espaço, é resumir algo tão complexo. Vou começar com um caso contundente e real. Durante 11 anos, acompanhei o treinamento de Ayrton Senna, conduzido por meu pai, Nuno Cobra. No treinamento cardiovascular, depois de 5 anos, o Ayrton havia mudado o seu VO2 máximo de 28 ml, no início do processo, para 70 ml (o equivalente a um maratonista profissional), sendo que 90% do seu treino, nesse período, ocorreu em baixa intensidade, com corridas de 60 a 90 minutos, e ele nunca sentiu dor ou sofrimento físico, em qualquer fase do treinamento.

Esse treinamento, que era o segredo mais bem guardado dos grandes treinadores de atletas, foi revelado e esmiuçado, recentemente, por um dos maiores fisiologistas americanos, Stephen Seiler, em um TED talks, veja com calma e entenda a questão, procure por “How “normal peaple” can train like the best endurence athletes”.

O que ele descobriu na mais abrangente pesquisa sobre o assunto? Ele comprova que 85% do treinamento desses atletas ocorre em baixa intensidade, o que o levou a afirmar, de forma categórica, que “O sem dor, sem ganho” é um falso conceito. Ele ainda não entendeu a sutileza desse tema, o treinamento com sofrimento agrada e traz resultados, em casos específicos, como no caso dos velocistas, lutadores de artes marciais (artes militares, ou dos adeptos ao fisiculturismo.

Para esses perfis, o “treinamento com dor” é uma promessa sedutora. Faz sentido, para superar recordes insuperáveis de velocidade ou para ter uma musculatura exagerada, é necessário fazer, igualmente, um treinamento muito além do limite e exagerado. O nosso organismo é uma máquina incrível, o ser humano se adapta a tudo, mesmo a uma forma de treinamento onde o aluno chora de dor durante a aula ou, nos dias seguintes, fica acabado e impossibilitado de se movimentar com eficiência, como na fórmula: “esmaga, que cresce”.

Qual o meu conselho? Em vez de seguir aquilo que te mandam fazer, sugiro testar e comprovar qual desses modelos serve para você e se adequa ao seu perfil específico. Você se adapta ao “hard way?” (treinamento com sofrimento) ou você prefere o “balance way” (Treinamento com equilíbrio)?

O que você prioriza? A performance, a estética ou a sua saúde? No método Cobra, provamos que é possível unir performance e saúde e ficar no meio desse espectro, isso só pode acontecer por meio do princípio fundamental do treinamento: a moderação. Em sua maioria, os modelos de treinamentos mais comerciais priorizam a estética e menosprezam a saúde, adotando fórmulas instantâneas e milagrosas de desenvolvimento físico.

O treinamento consciente propõe formas equilibradas, sustentáveis e inclusivas de treinamento, nas quais o aluno possa evoluir “step by step”, de forma segura e gradativa, sempre respeitando os seus limites e sofisticando a sua consciência corporal. Como diz meu pai: “O corpo é o nosso bem mais precioso, sendo assim, ele merece ser tratado com carinho e respeito”.

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Valorizar o erro fez de Ayrton Senna um piloto completo http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/valorizar-o-erro-fez-de-ayrton-senna-um-piloto-completo/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/valorizar-o-erro-fez-de-ayrton-senna-um-piloto-completo/#respond Wed, 19 Feb 2020 07:00:27 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=29

Crédito: Reprodução/thrillist

Tive o privilégio de acompanhar o treinamento físico e mental do Ayrton durante 11 anos. Meu pai, Nuno Cobra, teve um papel fundamental em sua carreira e acompanhar esse processo foi a melhor escola que eu poderia ter.

Depois que um atleta se torna um mito, parece que ele já nasceu pronto, mas ninguém que caminhe sobre a terra é sobre-humano, o Ayrton tinha grandes qualidades e grandes defeitos como qualquer ser humano. E, aqui, encontramos um dos segredos do seu sucesso: não ter medo de olhar para os seus defeitos.
A maioria de nós, tende a valorizar e reforçar nossos pontos fortes e, consequentemente, evitar e menosprezar nossos pontos fracos, porém nos diferenciamos ainda mais da massa quando trabalhamos nossos pontos fracos, fortalecendo e sanando essas “brechas” comportamentais, mentais e competitivas.

Manter-se competitivo requer uma reformulação e um auto aperfeiçoamento constante, como o caso do tenista Rafael Nadal, por exemplo, durante muitos anos, o seu saque e o jogo de rede eram dois pontos fracos, porém, nos anos seguintes, ele reverteu, com muito treino e determinação, esses “buracos” em seu jogo. Com o Ayrton era a mesma coisa, trabalhar seus pontos fracos era quase uma obsessão.

Errar não é humano

Errar não é humano, errar é parte integrante da natureza. Dos seres microscópicos e celulares aos maiores mamíferos, todos erram, a diferença é que nós atribuímos a esse fenômeno a qualidade de algo negativo. Os animais não têm medo de errar e, por isso, repetem uma ação, insistentemente, até que consigam realizá-la.

Imagine um leão na selva africana que, de repente, após diversas tentativas infrutíferas, desistisse de correr atrás de um antílope. Ele, então, se sentaria no chão, desanimado e extremamente triste. Nessa hora, outro leão se aproximaria e lhe indicaria um psiquiatra e um antidepressivo.

Segundo as pesquisas, um leão falha de 7 a 10 vezes antes de ter sucesso em uma caçada, ou seja, 85% da sua principal ocupação pode ser considerada um grande fracasso. Olhando por esse ângulo, a depressão causada pelo fracasso profissional parece, um tanto quanto, sem sentido, não é? Muitas vezes, ao nos compararmos aos animais, percebemos o quanto a nossa inteligência parece mais um fardo do que propriamente uma vantagem. É a tal perda da inocência e naturalidade tão citada nos textos bíblicos.

Sob outra perspectiva, podemos concluir que não existe erro na natureza. O erro é o nome que damos aquilo que não aconteceu conforme esperávamos, imaginávamos, gostaríamos. Sempre dentro de uma maneira específica de idealizar o resultado. O “erro” de um leão pode ser o “acerto” de um antílope. Naquele dia, o antílope foi mais esperto e ligeiro, apenas isso. “É o que tinha que ser”, esse é o mantra que precisamos internalizar, nem tudo está sob o nosso controle. Pensar a partir dessa perspectiva abre os caminhos e deixa a vida mais leve e fluida.

Dessa forma, você para de “dar murro em ponta de faca” e começa a enxergar as oportunidades que estavam à sua disposição, sem que você pudesse notá-las. Programar, fechar e idealizar o caminho é um “tapa-olho de burro” que limita a nossa visão, ao olhar para o lado e expandir a consciência, um mundo de novas possibilidades pode se abrir.

Estudos realizados com crianças mostraram que, aquelas que não dão muita importância ao fato de errar, aprendem em média cinco vezes mais rápido em comparação as outras crianças. Qual o fator que leva essas crianças a não darem tanta atenção ao erro? Elas estão se divertindo, extremamente presentes e imersas naquilo que fazem.

Aqui, se encontra uma grande lição: quando o valor intrínseco daquilo que fazemos nos apaixona e nos diverte, a nossa criatividade e resiliência podem aflorar, o que nos permite aprender com mais rapidez e competência. É como eu sempre digo: sem diversão não tem solução! Ter uma paixão genuína naquilo que realizamos é um dos grandes segredos do sucesso genuíno.

A falta de resiliência ao erro é um grande inimigo das novas gerações

Achar que existe um caminho rápido e garantido, um caminho ideal que vai nos levar ao sucesso e à felicidade é um mal do nosso tempo. Como diz o dito popular: “A rapadura é doce, mas é dura! ”.

Como os valores midiáticos e redes sociais ajudam a construir um mundo de “faz de conta” em nosso imaginário, no qual as pessoas ricas e “bem-sucedidas” são modelos de sucesso e felicidade, começamos a acreditar que existam fórmulas seguras para se chegar “lá” (ninguém vai te contar que esse “lá” não existe, é apenas um ideal fantasioso, a cenoura na frente do coelho).

Ao seguir essas fórmulas garantidas de sucesso, aos poucos, os mais jovens irão perceber que esse caminho é um pouco mais espinhoso do que lhes havia sido prometido. De qualquer forma, escolher o caminho mais fácil torna-se, com o tempo, o caminho mais difícil. Escolher uma profissão baseando-se apenas na remuneração financeira, sem um sentido de propósito ou de paixão genuínos, pode ser ingrato e infrutífero.

Se o resultado daquilo que fazemos importa muito mais do que a coisa em si, diminuímos bastante a nossa capacidade de suportar e ultrapassar os obstáculos em nosso caminho.

Me diga, a melhor maneira de aprender a ultrapassar um obstáculo, seria evitando-o? Esse exercício de encará-lo de frente e ultrapassá-lo não nos deixaria mais preparados, da próxima vez? Isso não seria uma experiência mais rica, educativa e completa? Como dizia Lao-Tsé: “forte é quem aos outros vence, poderoso é quem vence a si mesmo. ”

“O meu maior prazer está naquilo que antecede o que chamam de sucesso”
(Thomas Edson)

Errar mais, o segredo para ir mais longe

Por isso, só lhe recomendo uma coisa: que você erre muito, erre seguidamente, permita-se errar e, mesmo assim, não desista. Em relação ao aprendizado, o erro é mais importante que o acerto. Quem não tenta, não erra, mas também não aprende. A função do erro não é nos fazer parar, e sim, nos estimular a avançar, podendo, assim, tatear e expandir os limites estabelecidos por nós mesmos.

É o que nos permite romper o “cercadinho” da segurança, do controle e da previsibilidade no qual nos refugiamos e, a partir do qual, passamos a evitar qualquer forma de risco. Buscamos um lugar para ancorar, a satisfação da segurança, mesmo que ilusória. Temos medo de mudar, mas o risco maior é, exatamente, não mudar, não seguir o fluxo da vida e ceder ao conforto e à estagnação.

Quem não olha para os seus erros, não cresce. O erro é a grande alavanca do auto aperfeiçoamento e esse nunca cessa, é para a vida inteira.

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Como perfurar seu corpo 500 vezes com um espeto de churrasco e ficar feliz http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/02/05/como-perfurar-seu-corpo-500-vezes-com-um-espeto-de-churrasco-e-ficar-feliz/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/02/05/como-perfurar-seu-corpo-500-vezes-com-um-espeto-de-churrasco-e-ficar-feliz/#respond Wed, 05 Feb 2020 07:00:45 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=18

Crédito: DANÄVAZ/ reprodução do Instagram

Esta é a descrição de uma lipoaspiração do livro “Nu e Vestido, Dez Antropólogos Revelam a Cultura do Corpo Carioca”:

“São oitenta picadas em menos de dois minutos. O ritmo frenético não para. Através de um corte de um centímetro de largura, feito pouco acima do cóccix, o médico introduz uma cânula com 30 centímetros de comprimento e quatro milímetros de diâmetro, parecida com um espeto de churrasco feito de teflon. A gordura entra por um buraco na ponta e é sugada pela cânula. O médico empurra e puxa o espeto sem parar, com extrema intensidade (…). Depois de quinze minutos, cavoucando para a direita e para a esquerda, ele descansa (…). É preciso um pouco de força e velocidade para vencer as placas de gordura (…), terminada a cirurgia, o médico sai da sala e tira o avental. Sua camisa está encharcada de suor.”

Agora, tente imaginar alguém cavoucando e perfurando o seu corpo, mais de 500 vezes seguidas (80 vezes a cada dois minutos), utilizando um espeto de churrasco, com tamanha força, e você então entenderá a agressão ao seu corpo embutida nessa prática. Detalhe: caso não mude seus hábitos, toda a gordura voltará para o mesmo lugar, algum tempo depois.

O modelo de beleza atual distorce a realidade

Nas últimas décadas, o marketing do consumo plantou em seu inconsciente, sem que você perceba, um ideal extremo e radical de perfeição corporal, esse bombardeio ocorre diariamente, de forma subliminar, por meio de outdoors, TVs, revistas, mídias sociais e etc… A função desse ideal é fomentar a insatisfação e associar esse modelo corporal à conquista da felicidade – você só será feliz quando tiver um corpo perfeito – duas estratégias de venda bastante eficientes.

Como a perfeição não existe, enquanto não chega lá você é fidelizado pela “indústria bilionária do corpo perfeito” (dietas, academias, suplementos, equipamentos, clínicas estéticas, alimentos low-carb, termogênicos, uma imensa linha de produtos farmacêuticos e mais de 30 itens). O sarrafo não para de subir, o corpo da moda é um corpo extremamente magro, musculoso, rígido ou “bombado”. A estratégia funciona, pois quem não se adequa está insatisfeito e quem está próximo a esse ideal, nunca está satisfeito — sempre dá para melhorar um pouco mais — ambos devem seguir diversas fórmulas instantâneas e milagrosas de ganho muscular e emagrecimento propagadas por esse mercado.

Para confirmar essa escalada dos modelos de beleza, faça a seguinte experiência: procure uma foto do Batman na década de 1970. Pelos modelos atuais, ele seria considerado fraco e balofo; em seguida, veja como o corpo do Batman vai se transformando, a cada década, até chegar aos dias de hoje, em que ele virou um herói anabolizado, praticamente uma montanha de músculos, com volume e definição muscular irreais e absurdos.

Como resultado dessa distorção, meninas e meninos de 6 a 10 anos já sofrem de graves questões de saúde ligados à insatisfação corporal, tais como depressão, anorexia e transtornos alimentares, entre outros. Segundo minhas pesquisas, isso é apenas a ponta do iceberg, os efeitos colaterais dessa “cultura do corpo perfeito” são incomensuráveis, representando uma grave questão de saúde pública atual, a lista é enorme. (Saiba mais em: Manifesto em defesa do corpo).

Afinal, qual percentual da população tem um corpo ultra musculoso e “perfeito”, igual ao da capa da revista de Fitness? Analisando com mais profundidade, vemos que esse percentual equivale a menos de 1% da população. Você acha justo que essa minoria submeta os outros 99% a esse modelo insano e radical de perfeição corporal?

A magreza intencional e extrema vai contra a saúde e a beleza em todos os sentidos

Ter uma boa reserva de gordura é tudo o que nossa saúde nos pede. Estar um pouco acima do peso, de dois a cinco quilos, seria o cenário ideal para nossa saúde, beleza e vitalidade. As mulheres, principalmente após os 40 anos, sentem uma enorme dificuldade em perder peso. O organismo busca a qualquer custo economizar energia e armazenar gordura, já que isso irá protegê-lo da osteoporose. Depois dos 40 anos, ter um baixo índice de gordura é fatal aos ossos, à pele, aos músculos e à beleza, de forma geral. Toda a nossa herança evolutiva, durante milhões de anos, selecionou apenas os indivíduos que eram capazes de manter esta reserva de gordura. Ir contra isso é ir contra a nossa natureza, contra a própria vida.

Quem cai neste “conto de fadas fitness”, acreditando num modelo artificial, está apenas sendo conduzido de forma cega e obediente ao que lhe impõe o mercado de consumo. Segue pela vida feito boiada, obedecendo ao que lhe mandam fazer e abdicando da sua própria identidade. Pergunto-me quando nos daremos conta de que o bacana não é seguir o que está na moda. O bacana é  ter identidade.

Outro dia, fui a uma festa bastante chique, estilo “high society”. Chegando lá, fiquei um pouco assustado. Todas as mulheres pareciam iguais, com o cabelo loiro, comprido, alisado e perfeito. Todas usavam o mesmo tipo de roupa, bolsa e “vestiam” também o mesmo modelo de corpo, extremamente definido e malhado. Saí correndo de lá, na mesma hora. Em um mundo onde todos seguem o mesmo padrão, valorizar as suas diferenças e imperfeições significa assumir a sua singularidade, o que, consequentemente, o torna uma pessoa muito mais interessante e diferenciada.

“ENQUANTO ESTIVER PREOCUPADO COM O QUE OS OUTROS PENSAM SOBRE VOCÊ, VOCÊ PERTENCE A ELES. SÓ QUANDO DEIXA DE BUSCAR A APROVAÇÃO EXTERNA, VOCÊ SE TORNA DONO DE SI MESMO.” (Neale Walsch)

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Será que você está consumindo o “fast-food do treinamento” sem saber? http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/01/22/sera-que-voce-esta-consumindo-o-fast-food-do-treinamento-sem-saber/ http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/2020/01/22/sera-que-voce-esta-consumindo-o-fast-food-do-treinamento-sem-saber/#respond Wed, 22 Jan 2020 07:00:30 +0000 http://nunocobrajr.blogosfera.uol.com.br/?p=10

Crédito: iStock

Quando se trata de alimentação, praticamente todas as pessoas sabem identificar se estão consumindo fast-food e quais os prejuízos disso. Mas e quando o assunto é atividade física? Será que você não está consumindo sem saber o “fast-training“, que, a exemplo do fast-food,  pode ser igualmente nocivo à sua saúde e integridade corporal.

A questão é delicada e hoje vou revelar uma história muito esclarecedora, algo que boa parte dos treinadores físicos já sabe, mas que não pode vir a público. Quando converso com grandes estudiosos do treinamento, eles são extremamente críticos em relação às principais modas do treinamento. Pois é, a ética profissional tem um efeito colateral adverso: ela pode acobertar e proteger as fórmulas instantâneas e milagrosas de treinamento, uma vez que os profissionais mais experientes e influentes não podem criticar o próprio mercado e alguns métodos escolhidos para representá-lo.

Essa “lei do silencio” favorece uma distorção que prejudica imensamente toda a população. Quem tem disposição para ir contra o mercado e, ainda por cima, ser taxado de antiético?

Vamos por partes, primeiro, você sabe o que é o “fast-training“?

Como já falei, o “fast-training” se assemelha ao conceito de fast-food, só que aplicado ao treinamento. Traduzindo: o treinamento foi empacotado e formatado dentro de uma lógica comercial e vendável de curto prazo. Quem consome fast-food ingere um alimento vazio, sem qualidade e artificial. Da mesma forma, quem pratica o “fast-training” faz um treinamento esvaziado de sentido, sem qualidade e artificial. O princípio é exatamente o mesmo. Ambos podem ser são danosos à saúde.

Por que o “fast-training” é esvaziado de sentido? Porque ele é utilitarista, o exercício é visto como um mal necessário, uma pílula ruim que deve ser engolida para ter saúde, emagrecer e ganhar músculos –isso, por si só, é um dos principais fatores a dificultar a adesão do aluno. Por que ele é sem qualidade? Porque é um treinamento cosmético (o foco é a estética). E, finalmente, por que é artificial? Porque vai contra as leis da natureza. Tudo na natureza segue um processo gradativo ligado ao equilíbrio, a moderação e à homeostase.

Estrategicamente, o corpo foi transformado em um bem de consumo, uma “roupa”, que usamos como forma de aumentar o poder de sedução e o status social.

O “fast-training” não é indicado para mais de 90% da população, somando os sedentários, obesos, idosos, alunos com sobrepeso, alunos sem regularidade e alunos sem adaptação a esse modelo radical.

Como chegamos ao ponto em que estamos hoje? O treinamento físico é o único lugar, no universo conhecido, a negar a lei da moderação. No dicionário, a palavra moderação tem como significados: na medida exata, sem exagero. É incrível que, em pleno século 21, eu tenha que vir a público resgatar uma das sabedorias mais antigas da humanidade. Quando um professor de educação física afirma que a medida exata não funciona, ele está dando um tiro no pé, está assumindo que optou por abandonar ou se esqueceu de alguns princípios fundamentais do treinamento físico. Esse é o resultado de mais de três décadas de domínio da indústria do fitness, uma metodologia fundamentada no lobby do bodybuilding (culto ao fortalecimento muscular) e nos treinamentos da moda, em que o exagero é o correto e todo o resto fica sem validade. O que justifica esse totalitarismo e exagero? Acelerar os resultados? Que resultados são esses? Apenas estéticos? A que custo? Vale acelerar o envelhecimento corporal, destruir suas articulações e cartilagens, entre dezenas de outras contraindicações, para se atingir esse fim?

Quando o treinamento mira na estética, a tendência é distorcer os princípios fundamentais da saúde corporal

Na verdade, não existe apenas uma maneira de treinar, existem várias maneiras para se atingir o mesmo resultado. Se pudéssemos reunir os 100 melhores treinadores do mundo, veríamos que cada um aplica uma fórmula diferente e, mesmo assim, chegam a resultados parecidos. Todos os métodos têm vantagens e desvantagens. Porém, quanto mais radical for um método, mais efeitos colaterais ele poderá provocar.

Precisamos respeitar a individualidade biológica de cada um. Algumas pessoas adoram ir à academia, outras odeiam e não se adaptam a esse modelo, por mais que insistam, e tudo bem, somos únicos e diferenciados. Entender isso é a chave para combater o sedentarismo e a obesidade. Dessa forma, as modas e a massificação prejudicam a individualização, a adesão e a adaptação ao treinamento físico.

Porém, a responsabilidade não é apenas do mercado, essa herança é cultural, estrutural e histórica, o mercado apenas segue e reafirma a principal vertente do treinamento, o modo mais arcaico (é assim há 5 mil anos), o “Sem Dor, Sem Ganho” (No pain, No Gain) . É o que eu chamo de “a maldição do livre mercado”, as abelhas correm para onde está o mel, ou seja, uma parte enorme desse mercado gira em torno de fórmulas instantâneas e milagrosas de emagrecimento e condicionamento físico. As modas do treinamento são escolhidas a dedo, quanto mais sedutoras e comerciais, mais irão vender.

Por que as pessoas são atraídas pelo “fast-training”?

Pesquisando a fundo, encontrei a resposta desse enigma no relatório das estatísticas da IHRSA (International Health, Racquet & Sportsclub Association), organização que reúne as academias de todo o mundo. Segundo o material, 50% das pessoas abandonam a academia depois de três meses. A pesquisa não mostra a porcentagem dos alunos que abandonam o treinamento após seis meses, mas um item específico é bastante esclarecedor: sabe quais são as principais queixas reportadas pelos alunos nesta pesquisa? Falta de resultados rápidos e monotonia nos exercícios. Bingo! Aí está a explicação para a estratégia de marketing do mercado de fitness. Ou seja, baseada no resultado das pesquisas, o marketing se desdobra para pensar em estratégias que atendam a essa demanda. Agora, quando eu digo que as modas do treinamento, atualmente, têm uma enorme contribuição do diretor de marketing, você acredita?

O que faz um bom consultor: dá aquilo que o aluno pede ou recomenda aquilo que é melhor para o aluno? Em um futuro, não muito distante, um método de treinamento virá acompanhado de uma bula com informações básicas sobre os seus efeitos colaterais, assim como acontece com os medicamentos. Afinal, em médio e longo prazo, um método de treinamento pode ser extremamente negativo a sua saúde –a diferença entre o veneno e o remédio é a dosagem e a intensidade. Por meio de uma pesquisa que durou 12 anos (e virou um livro), exponho essas distorções e contraindicações do modelo hegemônico

O equilíbrio está no meio, não nos extremos. Sem dúvida, quando falamos em saúde no treinamento, a recomendação, assim como na alimentação, deveria ser a seguinte: faça atividade física com moderação e qualidade.

No entanto, infelizmente, essa recomendação não está na moda.

Trata-se aqui do velho paradoxo do ovo e da galinha: as pessoas só pensam em resultados rápidos e ganhos estéticos e é por isso que o mercado fomenta essa busca? Ou é o mercado que fomenta a busca do “corpo perfeito” e, dessa maneira, as pessoas só pensam em barriga chapada e bunda durinha? Como reverter esse círculo vicioso?

Para ser efetiva a atividade física deve ser incorporada a uma rotina, esse é o grande segredo. Caso essa atividade seja prazerosa, lúdica e equilibrada, o desafio será muito mais acessível e convidativo para uma grande parcela da população.

Porém, não é fácil mudar algo que se mantém hegemônico há tanto tempo. Só com a união de todos –academias, professores, mercado, mídias — e com campanhas consistentes poderemos transformar essa cultura.

Detalhe importante: o consumidor detém a chave desse processo, afinal, o mercado só muda se você mudar.

Consciência é liberdade!

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